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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Mariana Tinha um Sonho








Mariana tinha um sonho...


... Na placa: RUA DO CÉU. Rua deserta, mesmo estando às casas juntinhas e em grande numero, não se via gente. Ninguém para comprar o pão ainda quentinho na padaria ao lado; receber o jornal lançado as pressas pelo moleque; ou atender o leiteiro que passa sempre apressadamente pelas casas a avocar de sobressalto. Que estranho esse vendedor. Parecia estar vendo fantasmas. Eu hein! Ninguém queria leite!? _Se pudesse apanhá-lo sem abrir o portão... Mariana ouviu esta frase rixosa da boca da vizinha camuflada com as ramagens do seu jardim.


Moça do interior, Mariana chegara àquela cidade há muito pouco tempo. Herdara a casa da sua avó. – Mais é tão linda! Dizia ela ao vê-la pela primeira vez. Sem pensar, mudou-se com o pouco que tinha. Na sua bagagem coisas pequenas. No seu coração, a esperança de fazer do seu novo lar, um cantinho de paz!


Toda tarde sentava-se na varanda a espera do aconchego dos vizinhos e a observar um casarão bem de frente a sua moradia. _ Estranha pensão essa ai (pensava). Pobre Mariana! Ela só queria um sorriso; um bom dia com sabor de calor humano. _ Amanhã certamente eles me verão aqui! Consolava a si mesmo e retornava a solidão do seu recanto.


Em uma dessas tardes, a moça percebeu um burburinho do outro lado da rua. Dirigiu-se até o seu portão na esperança de ver crianças reunidas, brincando de amarelinha, pega pega... Não importava o que tivessem fazendo, eram crianças. _ Saía já desse portão, sua louca! Gritava a vizinha da persiana do banheiro. Por quê? Tadinha da Mariana, tão ingênua e desinformada! _A alegria contagiante dos pirralhos jogando pelada na rua seria tão bom! (pensou). Bateu a porta por trás de si.


Enfadada com tanta clausura, colocou seu xale e desceu a ladeira. Desejava encontrar nem que fosse o leiteiro. Sentou numa pracinha a poucos passos da sua casa. Passaram-se uma, duas, três horas e finalmente, alguém! _ Moço, moço. Hei! O homem aumentou seus passos e seguiu adiante, até parar de frente a uma casa e entrar afoito. Lá vai a Mariana de volta pra sua solidão.


Dias depois, estourou do outro lado uma rebelião no presídio e a rua do céu ficou tomada por policiais. Prisioneiros se atracavam com a PM, pois as armas não os intimidavam. E o céu mais parecia o inferno em chamas. Os homens lutavam como animais e os corpos se espalhavam pelas calçadas. . .


_Então a grande casa de janelinhas mil, que a noite ilumina o pedaço do céu, é um presídio? Mariana caiu em si e começou a chorar.


_De que vale o colorido contagiante das paredes do céu, e o belo jardim daquela praça a ornamentar a sua entrada, se a morte aqui se esconde espreitando seus moradores? Tenho um sonho (gritou parada no meio do tiroteio): Levantemos um muro, dividamos a rua, exilemos a grande casa iluminada que selam homens de almas desgraçadas e deixemos que em paz, nossas crianças brinquem de amarelinha. Ai!! Seu grito ecoa pelo ar e ela cai agonizante a repetir: levantemos um muro... levantemos...


Doce sonho esse da Mariana!




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